1. Acessibilidade para os surdos

1.2. Dúvidas comuns sobre as línguas de sinais e a Cultura Surda

Além dos mitos elencados por Quadros e Karnop (2004), existem outras dúvidas muito comuns quando ainda não se tem contato com a comunidade surda, como por exemplo: O correto é chamar a pessoa de surdo ou de surdo-mudo? Qual é a diferença entre o surdo e o deficiente auditivo? O certo é falar linguagem de sinais ou língua de sinais? Qual a diferença entre a Libras e o alfabeto manual? Vamos ver as respostas para estas perguntas?

1. Qual é a forma correta para se referir às pessoas surdas: Surdos, Deficiente auditivo ou surdo-mudo?

Muitas pessoas, com receio de serem grosseiras ou de ofenderem a pessoa, acabam utilizando termos equivocados e que em alguns casos, acabamsudo mudo.jpeg piorando a situação. No caso das pessoas que não escutam, a terminologia mais adequada é “surdo”. Os termos surdo-mudo, mudo, mudinho e derivados, devem ser evitados, pois além de equivocados, soam ofensivos para o surdo. Veremos nas próximas questões, quando tratarmos especificamente sobre a cultura e identidade surda, que ser surdo é muito mais do que não ouvir, e para quem tem uma identidade surda, não há motivos para tentar esconder ou minimizar a surdez, pelo contrário... os surdos tem orgulho de serem surdos! Portanto, não tente ser educado utilizando termos eufemísticos, chamar de surdo não tem nada de mal.

2. Qual é a diferença entre o surdo e o deficiente auditivo?

Algumas pessoas utilizam o termo “deficiente auditivo” ao invés do termo surdo. Clinicamente falando, os surdos podem ser chamados assim, entretanto, os surdos que desenvolveram uma identidade surda, que participam da comunidade surda e que usam a língua de sinais preferem ser percebidos como um grupo cultural minoritário e não como deficientes, logo preferem ser chamados de surdos e não de deficientes auditivos. Alguns surdos, não assumem uma identidade surda e procuram utilizar estratégias para se inserir na comunidade ouvinte por meio de aparelhos auditivos e implante coclear, estes sim, não se importam de serem chamados de deficientes auditivos. Pode-se dizer que o termo deficiente auditivo é uma definição clínica e legal, referindo-se a uma perda da capacidade de percepção do som ao nível da fala humana, podendo ser leve, moderada ou severa.

3. O certo é falar linguagem de sinais ou língua de sinais?

Por se tratar de uma língua estruturada, com gramática e inclusive com variações regionais, o termo correto para se referir à Libras é Língua de Sinais, e não linguagem de sinais como é bastante comum encontrarmos em jornais e meios de comunicação. As línguas de sinais são línguas de modalidade de recepção e transmissão espaço-visual.

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Estudos realizados com crianças surdas, filhas de pais ouvintes, demonstraram que o processo de aquisição da Língua de Sinais ocorre de maneira natural para os surdos, sem precisar ser diretamente ensinada. Da mesma forma que as crianças ouvintes aprendem sua língua ouvindo seus pais e familiares falando, os surdos passam pelo processo de aquisição da linguagem vendo outros surdos sinalizarem.

4. A Libras é uma língua Universal? É igual em todos os países?

A Libras não é uma língua universal, ou seja, assim como existe a língua brasileira de sinais, existe a língua americana de sinais, a língua francesa de sinais, a língua chinesa de sinais, e assim por diante. Cada comunidade de surdos cria e desenvolve suas línguas de sinais de acordo com suas necessidades e contextos culturais de comunicação. Uma curiosidade interessante sobre as línguas de sinais, é que, além de variarem de acordo com o país, existem também variações regionais. No Brasil existem diferentes formas de falar a língua portuguesa, também existem diferentes “sotaques” na hora de sinalizar. Na Unidade II deste curso você vai estudar um pouco mais sobre as variações linguísticas da Libras.

5. Qual a diferença entre a Libras e o alfabeto manual?

Confundir a língua de sinais com o alfabeto manual também é algo muito frequente. O alfabeto manual é apenas um recurso da língua de sinais para fazer a soletração de palavras, tais como, nomes próprios ou vocábulos de uma língua oral que ainda não possuam um sinal correspondente na língua de sinais. A língua de sinais é um sistema linguístico convencionado, onde cada sinal corresponde a uma palavra ou conceito na língua de sinais, por exemplo: temos a soletração da palavra bola B_O_L_A ou o sinal da palavra bola. No final deste tópico você vai aprender mais sobre o alfabeto manual.

6. Por que o estudante surdo escreve de um jeito diferente?

De maneira geral, o surdo escreve diferente dos demais estudantes ouvintes porque a língua portuguesa escrita é, para ele, uma segunda língua. Ou seja, a primeira língua do surdo é a língua de sinais, e é com a primeira língua que o sujeito pensa, entende o mundo e constrói sua subjetividade. Ao escrever, o surdo tem a tendência de escrever na estrutura gramatical de sua L1. Por isso, quando lemos o texto de uma pessoa surda percebemos que se trata de um texto de um usuário não nativo da língua, como se fosse um estrangeiro tentando escrever em língua portuguesa. A leitura também é um processo mais difícil para a pessoa surda, porque é uma leitura de tradução, da mesma forma como seria para o ouvinte nativo da língua portuguesa ler um texto em alemão. Com o tempo e o contato frequente com a língua os níveis de leitura e escrita vão se aperfeiçoando. Isso nos lembra a importância de você, professor, oferecer um atendimento em Libras para os surdos, pois tentar se comunicar apenas pela escrita não é suficiente para a maioria dos surdos.